terça-feira, 22 de setembro de 2009

Da arte de ter amigos

Para uma nova velha amiga

Muita gente se diz impressionada com a quantidade de amigos que eu tenho. Difícil um dia sair a passeio e não esbarrar com um de meus amigos. Ainda mais depois do advento das redes sociais: o número cresceu em progressão geométrica. Mas sobre ter amigos, uma experiência da minha mãe deu-me uma lição inesquecível...

Minha mãe nem era balzaquiana quando tudo aconteceu. Na flor das suas 29 primaveras, longe da família, confinada em uma cidadezinha minúscula do Vale do Aço, sua melhor amiga era sua (vi)Zinha. Mamãe não fazia nadinha sem consultar sua (amiga)Zinha - esse era o apelido carinhoso que ela tinha: Zinha. Trocavam receitas, fofocavam... Minha mãe sofria muito longe da família dela e punha sob os ombros da amiga seus lamentos, mágoas, lamúrias. Ingenuamente (eu quero acreditar), a amiga de minha mãe caiu na bobagem de confessar, no salão de beleza do bairro, para uma vizinha da rua, que não aguentava mais os choramingos de minha mãe. A dona do estabelecimento, "amiga" da minha mãe (fiel cliente), contou tudo para ela... O resultado disso tudo fez da minha mãe quem ela é hoje e um pouco do que sou agora. Uma amizade (?) foi destruída por uma fofoca "bem-intencionada". Em quase 30 anos, minha mãe jamais teve outra amiga ou amigo novamente. Vi o trauma da minha mãe e nunca pude compreendê-lo plenamente, até hoje.

Para entender minha mãe eu precisei entender o que quer dizer ter um amigo e perdê-lo. Ter um amigo e ser traído por ele. Ter um amigo e ser magoado por ele. Ter um amigo, amá-lo para depois odiá-lo até a mais completa indiferença. Devo dizer, com extrema honestidade, que essa dor não é apenas indesejável, mas inolvidável. Quem é ferido por um amigo jamais esquece. Jamais...

Para quem pensa que eu tenho muitos amigos, lamento causar desilusão, mas devo dizer que não os tenho. Mal me conheço e eles não me conhecem - ainda que pensem convictamente o contrário. Deus, tanta gente me lê, fala comigo, sorri, brinca, sem nunca perguntar sobre as minhas angústias, meus problemas... Estamos - eu e meus amigos - todos sós. Desconhecidos uns dos outros. Ignorantes de nós mesmos...

A arte de ter - colecionar, como números - amigos tornou-se completamente banal. Pessoas se medem pelo tanto de "amigos" que elas têm - e fazem de tudo para tê-los e mantê-los... Mas são poucos os que se dedicam à arte de sê-lo...



3 comentários:

Cacau Gonçalves disse...

Pois então...

Apesar de sempre ter tido o mau hábito de acreditar nas pessoas (até que me provem que não devo, mas aprendo rapidinho, uma vez só basta...rs), sempre consegui entender que amigo é algo que não encontramos em qualquer esquina. E mesmo assim, mesmo os amigos tb tem seus dias ruins... tb vacilam com a gente (e, provavelmente, a gente com eles)

Atualmente, posso dizer que tenho 2 amigas (além do marido, que é meu melhor amigo). Eu chamo de amiga aquela criatura que está lá para o que der e vier, que nos acode quando precisamos, que se deixa acudir quando precisa, que não cobiça nosso namorado/marido, que não inveja nossa vida ou nossos filhos, e que é capaz de ficar alegre com nossa alegria, mesmo que ela esteja triste... e quando nós, por outro lado, não conseguimos ficar 100% felizes com nossas alegrias porque ela está triste por alguma razão. Pra mim, amizade é isso. Não tem a ver com a quantidade de vezes que nos encontramos. Às vezes somos muito amigas à distância.

No entanto, aprendi tb a não ser tão chata e preciosista na maneira de falar. Então, chamo de amigas e amigos várias pessoas de quem gosto do jeito, gosto de conviver e tenho alguns temas de interesse em comum. Por que não?

Mas creio que o maior segredo em termos de amizade é este: quando somos nosso melhor amigo! Apesar de nem sempre podermos confiar tb...rs

beijos

Adri disse...

disse tudo, claudinha!
obrigada por compartilhar sua visão comigo...
beijocas saudosas!

Anônimo disse...

É verdade o que vc diz sobre amigos. Mas acho que traumas devem ser superados. Ter medo de sofrer é ter medo de crescer.
O melhor amigo para mim, sempre será a nossa Alma. Uma fez li num livro que "nossos verdadeiros amigos nos reconhecerão e nos entenderão no primeiro momento em que nos ver, ao contrário dos conhecidos que passam anos do nosso lado sem nunca nos conhecermos", era algo assim.
Eu tive um amigo que nunca quis falar dele para você, se chamava César. Até hoje meus olhos enchem de lágrimas só de lembrá-lo.As vezes penso que se tiver um filho ele chamaria César, como meu pai fez um dia, colocando meu nome em homenagem a um amigo que nunca tive a honra de conhecê-lo. Ele realmente foi um amigo.
Ele mudou para Teófilo Otoni quando tinha uns 16 anos. Só depois eu o vi, numa visita surpresa aqui em casa. Então, eu posso morrer dizendo que tive um amigo na vida.