domingo, 15 de abril de 2012

O nosso maior medo





Medo devia ser uma palavra mais exdrúxula. Com muitas sílabas, acentos, encontros consonantais, cedilhas, etc... Uma palavrinha de 4 pequenas letras: destrói, corrói. Você tem medo de quê? Tenho muitos medos inconfessáveis. E tenho um desejo imenso de viver uma vida sem medo. O medo é uma jaula que nos bestializa. Uma prisão sem muros. Grilhão ilusório. Amarra invisível. Gás paralisante. Tenho medo de ter medo de ter medo e isso não torna confusa a força do meu adversário. Tenho medo de confessar meus medos. Tenho medo de fingir que o medo não existe. Tenho medo de acreditar no medo. Tenho medo de todos os medos do mundo. Hoje, quero confessar meus medos. Tenho mais medo do próprio medo do que de meus próprios erros. 

Tenho medo de não ser forte. Tenho medo de ser frágil. Tenho mais medo de machucar que ser machucada. Tenho medo de não conseguir viver a vida que eu quero para mim. Tenho medo de fingir ser o que não sou. Tenho medo de não ser a pessoa que eu acredito ser. Tenho medo de descobrir que além de ser a sombra do que eu era, não sou nem a metade do que eu queria ser. Tenho medo dos meus desejos. Tenho um medo medonho de perder. De  me perder. 

Ontem li uma citação que dizia o seguinte: "a alma não tem segredos que o comportamento não revele". Seria brilhante a assertiva se acaso fosse a alma quem se comporta. A alma não se revela porque a alma não tem segredos. A alma simplesmente é. Quem sente dor, rancor, mágoa, tristeza ou medo? Acho que tenho medo de saber. 

Não tenho medo da decepção. Tenho medo de decepcionar. Não tenho medo de errar. Tenho medo de não ter razão - para existir, para entender, para aceitar, para desistir... ou para lutar. Não tenho medo da solidão. Tenho medo de ser só. Tenho o medo medonho de magoar quem eu amo irremediavelmente. Não sou desprovida de coragem. Às vezes mergulho e me entrego ao imprevisível, me arrisco no escuro. Mas o meu maior medo... é que me descubram antes de mim.







sábado, 7 de abril de 2012

Feliz Desanivesário





A primeira vez que eu vi Alice no País da Maravilhas da Disney fiquei um tanto quanto decepcionada. Não sei explicar exatamente por qual motivo. Presumo que seja porque vi num momento errado da vida. Eu não entendi bem aquela overdose maravilhosa de cores e surrealismo. Tenho um pouco de reserva com unanimidade. O que dizem que é clássico nem sempre é sinônimo de excelência.

Aniversários são unanimidade. É considerado quase uma lei universal que seja celebrado, festejado, aclamado como evento especial na vida de todo ser humano. Mas por quê? Meu pai amava aniversários. Mesmo quando não tínhamos muito, meu pai fazia extrema questão de comemorar nossos aniversários com bolo, docinhos, salgadinhos e guaraná. Nunca se furtava a esse capricho. Ele gostava de festas... A primeira memória de aniversário que tenho foi quando tinha uns 4 anos. Ganhei uma boneca Susie do padrasto da minha mãe. A primeira festinha que me lembro com mais nitidez foi a de 5 anos. Morávamos no interior. Estavámos longe de todos os outros membros da família e mesmo assim, papai me comprou um bolo bem grande, encheu a mesa e convidou vizinhos para que eu cantasse parabéns e soprasse velinhas. Uma outra memória bastante curiosa é a do aniversário de 1 ano do meu irmão caçula. O tema foi o Sítio do Pica Pau Amarelo e veio a família toda em peso! A casa cheia, muitos vizinhos e amigos do meu pai estavam presentes. Havia muita comida, bebida e dança. Meu pai dançava muito, muito bem. E adorava me ensinar. Todos paravam tudo que estivessem fazendo para nos ver dançando gafieira, tango, todas as danças clássicas que papai conhecia e eu o acompanhava tão bem. Achavam lindo uma menininha de 7 anos dançando com o pai. Enquanto houve infância, papai nunca deixou de celebrar um aniversário meu sequer com festa. Nos meus quinze anos, tive o debut dos sonhos de toda menina, com toda pompa e circunstância... Tive meu dia de princesa...

Anos e anos tão longe agora da infância e sem meu pai, me questiono por que aniversários são tão importantes e celebrá-los tão imperativo quanto uma lei? Depois que fiquei adulta, aniversários viraram uma data social. Hoje em dia poucas pessoas ligam para cumprimentar, mas mandam e-mail, tweets, mensagens virtuais nas redes sociais para que a gente saiba que foi lembrado. Esse ano fiquei comovida com a infinidade de mensagens atenciosas e carinhosas que recebi e particularmente feliz por não estar sozinha nessa data, embora o "acaso" conspirasse para impedir que estivessem comigo na referida data. Comprei bolo, refrigerante e escolhi lugar. Chamei pessoas, como fazia meu pai. Mas ele, não sei por que, atraía sempre o público para seus eventos grandiosos. Acho que não tenho o mesmo talento dele. Todavia, não posso me queixar: tive a festa de aniversário mais singela e gostosa dos últimos anos. Como há muitos não fazia, soprei "velinhas" e os queridos que estavam comigo me cantaram parabéns pra você... 

Mais importante que aniversários - data que nos faz lembrar que estamos vivos quando a morte nos faz lembrar que devemos pensar no por que estamos vivos - são todos os outros 364 dias que o sucedem. Nos desaniversários não temos a obrigação de estarmos sorrindo e felizes porque é um dia "especial"; nos ocupamos em estarmos nervosos, ansiosos, estressados, criando e realizando desejos. Não é interessante pensar que nos desaniversários acontecem os aniversários de outras pessoas? Hoje é o meu desaniversário... É o seu também? Por que não comemorar?