segunda-feira, 25 de maio de 2009

Aula de Romantismo

Não entendo porque eu nunca levei tão a sério a minha brincadeirinha de infância preferida: brincar de aulinha. Eu adorava um giz e queria um quadro negro! Minha tia - que tem quase a mesma idade que eu tinha. Eu adorava! Essa política da sociedade - e da própria categoria - de depreciação do ofício do magistério conseguiu fazer com que eu perdesse muito tempo. Demorei demais para seguir o que sempre foi a minha vocação. Mas eu não vivo depressa demais. Vivo cada segundo; devagar. Tenho pressa, é verdade. Mas, o fruto verde não tem sabor - tem que estar maduro primeiro.

Eu adoro estar numa sala de aula! Não existe outro lugar que eu poderia me sentir melhor. É lógico que eu tenho limitações e dificuldades. O fruto ainda está amadurecendo, é bem verdade. E por é bem por isso que o entusiasmo não me abandona. Quero sentir o sabor...

Hoje foi nossa primeira aula sobre o Romantismo - o estilo de época. Puxa, eu voltei no tempo uns 20 anos. A minha professora de Literatura na época levou a música Exagerado - do Cazuza para ilustrar sobre o romântico, a atitude do romântico. Eu tive uma ideia um pouco diferente. Quem conhece o Vander Lee? Estranho é o fato dele ser daqui de Minas, um Belo Horizontino, e não ser conhecido! Românticos é uma música perfeita pra ilustrar o espírito do romântico (que pode ser eu, pode ser você) e do poeta daquela época. Meus alunos amaram! E hoje foi só o começo...



quinta-feira, 21 de maio de 2009

A Legião Urbana - Metal contra as nuvens


A Legião fez parte da minha formação; da formação do meu caráter lírico. Eu era uma adolescente cheia de sonhos, cheia de vontade - de entender, de sentir e de viver. Cantava Faroeste Cabloco inteira de cor. Perdi o último show que fizeram em BH (uma vergonha que eu tenho dessa cidade e das pessoas que fizeram o que fizeram com o Renato aquele dia). Eu não entendia... Eu apenas sentia.

A música "Metal contra as nuvens" é tão diferente de tudo, tão diferente daquela fórmula tão comum de música: tema (sempre banal e óbvio) e refrão. Essa canção é uma quebra de "paradigma". A letra tem tanta poesia, tanta metáfora... E o sentido, fica com quem ouve, com quem consegue extraí-lo.

Essa música hoje faz muito mais sentido para mim do que naquela época. Não vou dizer... Deixo você tentar entender, como eu tentei... E de certa forma, consegui.

Veja o vídeo da versão acústica da canção clicando aqui.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A Felicidade é clandestina

Clarice é minha favorita - é evidente. Mas recentemente tive que reconhecer que ela não era lá muito original. Muitas coisas legais que ela disse foram ditas por Fernando Sabino. Ela só colocou da maneira dela. É aquela tal de Lei de Lavoisier da literatura. É certo que me desapontou um pouco reconhecer isso depois de reler "O Encontro Marcado", mas assim mesmo ela (na verdade, o Sabino mais ainda) conseguiram pôr em palavras de maneira absolutamente perfeita como eu jamais conseguiria. Eu gosto muito do conto "Felicidade Clandestina". É como se fosse um retrato de mim também... E eu hoje estou pensando no que é felicidade.

Todo mundo quer ser feliz. Muita gente diz que é feliz. Mas eu duvido de todo mundo. Partindo do básico, consulto o dicionário. Concurso de circunstâncias que causam ventura - está lá! Concordo que esse seja talvez um caminho para que a gente possa identificá-la em nós, mas a felicidade é mais que clandestina - é sorrateira, oculta. Quando a gente é feliz, a gente nunca sabe. E só se dá conta quando a sensação fica quando ela passa.

Ontem foi o show do Heaven & Hell (Black Sabbath com o Dio). Meu namorado sabia do evento há meses, mas a perspectiva de estar lá era remota. Era um sonho de menino que ele tinha de ver o famoso guitarrista canhoto Tony Iommy e o vocalista Dio em pessoa cantando no palco na cidade dele. Já confessei aqui que nunca fui fã de heavy metal e outros gêneros, mas o amor que ele tem à música em geral é tão grande que me educou para apreciar de certa maneira até o que eu jamais pensei em curtir. Estávamos sem grana para os ingressos. O primeiro lote se esgotara rapidamente e uma semana antes do show, o site do Chevrolet Hall já avisava que todos os ingressos foram vendidos - tudo esgotado! O dinheiro surgiu na véspera do show, mas ele estava descrente. Eu procurei pessoas vendendo na internet - no Orkut, no Twitter e nada! Com algum esforço, consegui convencê-lo a tentar comprar na porta, horas antes do show começar. A porta da casa de espetáculos estava toda negra - uma multidão cabeluda e vestida de preto da cabeça aos pés, surgida "do nada", fazia fila para assistir aos ídolos do metal. Meu namorado estava entusiasmado e eu acabei sendo contagiada. Nervosos e sem muita esperança, fomos direto à bilheteria - uma chance infinitesimal de conseguir comprar entradas por preço real. Qual não foi nossa surpresa quando o rapaz da bilheteria disse com uma cara desapontada: só tem um. Pronto! A sorte era dele. O ingresso era dele! Mas ele me queria junto. Fomos para fila, ingresso garantido. Encontrei uma aluna minha na fila e ficamos ainda mais empolgados pelo espetáculo. Meu namorado tentou, mas os cambistas são implacáveis - querem lucro absoluto às custas de fãs inocentes. Jurei tentar conseguir comprar do lado de fora. Segui com os olhos a fila andando, meu namorado e minha aluna felizes indo ver os roqueiros legendários. Do meu lugar, eu senti a emoção dele. Tentei, como prometido, mas a ganância me derrotou. Vim para casa esperar por ele. Depois de 3 horas, ele chegou com rosto iluminado de alegria e os olhos vermelhos, banhados pelas lágrimas da emoção. Ele mal encontrava as palavras para descrever os acontecimentos e o impacto da experiência vivenciada. Sorrateira, a felicidade dizia que estava ali. Dentro dele e dentro de mim.

Felicidade para mim é essa: a que vem a mim através do outro, a do outro sendo a minha. Eu não estava lá. E justo por não ter estado que eu sei que a minha felicidade foi tão grande quanto a dele porque ELE estava feliz. Experimentar essa felicidade é maravilhoso! Gostaria que todos pudessem encontrá-la um dia, de repente - Sem surpresas. Pois se ela é clandestina, descobrí-la é uma experiência singularmente fascinante!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Você tem fome de que?


Do momento em que a gente nasce e dá o primeiro choro no mundo, a primeira coisa que a gente faz, o que é? Comer. A mãe dá o seio ao filho e esse para de chorar imediatamente. Comer é necessidade. Mas é uma necessidade associada - ao carinho, ao aconchego, ao afeto. Por isso, acredito que as pessoas que têm apetites vorazes quando adultas foram crianças que não receberam atenção como mereciam. Fome é sintoma - da falta, da ausência, do vazio. Usa-se dizer "tenho fome de viver". Mas e o que é viver? Como saber, se eu nem mesmo sei o que é a fome?

O dicionário fala que fome é um substantivo feminino sinônimo de apetite, urgência pelo alimento. Ainda bem que não temos fome de ar - respirar é automático; o organismo só grita se realmente falta! Entendo a fome como uma coisa muito psicológica. Acredite ou não, já passei 3 DIAS SEM COMER! Não foi um jejum sofrido, nenhum pagamento de promessa, nada disso. Eu simplemente estava feliz e essa felicidade me completava totalmente. Eu não tinha necessidade de nada, eu não desejava comer ou beber - estava completa. Naqueles dias, eu senti que eu podia passar o resto da minha vida sem botar um grão de arroz e uma gota d'água na boca. Foi uma das experiências mais fortes que eu já vivi. Não foi forçada, nem programada. Ela foi - a impressão ficou. A lição também, de alguma forma.

Fome não é coisa do estômago. É coisa do âmago, do ser. Nos anos 80, os Titãs falaram com bastante propriedade sobre o que é comida - pasto - e o que é a fome - desejo, necessidade, vontade. Eu olho para trás e vejo como há um tempo atrás eu vivia cheia de desejos sem distingui-los da necessidade. Hoje impera a vontade de (sobre)viver. A necessidade do emprego, do dinheiro para pagar as contas, de ter saúde (em tempos de gripe suína!). Ser feliz vira consequência. E as outras fomes? Fome de diversão, fome de arte, fome de música e espiritualidade? Eu tenho muita fome - insaciável e inquietante. Fome de entendimento, fome de (re)conhecimento, de pequenos e prosaícos prazeres. E você? Você tem fome de que?