quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Por uma educação que transforme o mundo



Quem me acompanha já sabe que sou uma apaixonada por minha profissão e que estou empreendendo todos meus esforços em minha carreira, mesmo atravessando um dos piores momentos da minha vida.  Hão de vir mudanças que transformarão singularmente a pessoa que sou agora para me transformar na que pretendo ser enquanto viver. Nesse meu futuro que é quase agora, deparei-me com números absurdos em uma pesquisa sobre a qualidade da educação sob o olhar do professor. Estou HORRORIZADA com a discrepãncia entre o que ouço dos colegas da rede pública estadual aqui em Minas em conversas informais em sala dos professores quanto à qualidade da educação. Estão sempre, o TEMPO TODO, reclamando, criticando e não fazendo NADA para que as coisas melhorem. O resultado da pesquisa realizada pela da Fundação SM teria, seguramente, números BASTANTE diferentes se as pessoas não pusessem a máscara da hipocrisia. Do início da minha carreira em 2003 até hoje, fui severamente desestimulada a continuar na profissão, especialmente pela rede pública de ensino do Estado. Fui obrigada a ver resultados de provas de avaliação de desempenho de alunos serem adulterados por professores para manter/conseguir benefícios salariais que estão vinculados aos mesmos. Fui obrigada, mais de uma vez, a conviver com o desinteresse, o descaso e o desprezo pelos alunos que são sempre o problema - nunca somos nós mesmos (os "mestres") ou a escola. E não é de hoje que isso me incomoda. Bastar (re)ler meu desabafo em abril do ano passado... 

Fui humilhada incontáveis vezes por não ser efetiva nos cargos que ocupei como designada e em processos de designação. Nunca tive a oportunidade de encontrar na rede pública mineira um único docente que tivesse o mínimo entusiasmo por estar na escola formando cidadãos. Ao longo desses anos, meus caros colegas jamais se esqueceram, evidentemente, de lamentar pelos baixos salários, pelo volume de trabalho, pela geração que "não respeita ninguém", mas nunca se lembraram de empreender esforços INDIVIDUAIS para mudar essa realidade.

Não posso pensar em fazer uma revolução na educação ou na sociedade se primeiro não realizo uma revolução interior e, tomando emprestada a palavra do poeta, inelidível: é necessário revolucionar todos os (pre)conceitos que nos impuseram, acreditar em nossos sonhos e fazê-los acontecer.

No filme "Um sonho possível" (que deu a Sandra Bullock o Oscar de melhor atriz), o personagem principal, um adolescente negro e marginalizado, consegue uma oportunidade em uma escola de elite, mas os próprios professores da instituição desacreditavam de sua capacidade. No entanto, quando pousou sob O OLHAR ATENTO de alguém que reconheceu sua real potencialidade, pôde se desenvolver e crescer como ser humano e como aluno. Nessa história (que não é mera ficção, já que é baseada em fatos reais), marcou-me o momento em que o estudante, ao realizar uma tarefa acadêmica, registra o quão importante é a determinação sobre o caminho a trilhar na vida, a coragem necessária para empreendê-lo e a força de vontade para lográ-lo, sem desistir.

Acho que os docentes da rede pública no Brasil precisam voltar seu olhar para si mesmos; não apenas para as práticas pedagógicas, as especificidades de seus alunos ou da comunidade escolar. Deveríamos, todos nós, nos debruçarmos sob nossos princípios - aqueles mesmos que nos trouxeram até aqui - e realizarmos, em nós mesmos, em primeira instância, a verdadeira mudança - aquela que pode pôr em marcha a verdadeira e tão desejada transformação do mundo.




quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Até meu último sopro de vida - Tchau, pai...

Morrer é inevitável. Certamente, em algum momento da vida nós já desejamos poder viver para sempre. Porém, há momentos em que a dor e a falta de compreensão sobre o porquê dessa existência é tão insuportável que a morte parece ser um prêmio merecido depois de tanta luta. Quando estou fazendo algo que me apaixona, não me lembro de pensar nisso: por que é que a gente existe se um dia não vamos mais existir? - nem nós nem aqueles a quem mais amamos. Por que não gostamos de falar ou sequer pensar na morte? A morte deveria ser pensada a cada dia... Não com tristeza, medo... Mas como uma forma de nos fazer entender que lutar tanto pela vida deve ter algum significado que precisamos descobrir.

Eu já tive tantos pesadelos horríveis com a morte do meu pai durante toda minha vida... Era um dos meus pânicos. Hoje vejo que todos aqueles pesadelos terríveis me prepararam para a realidade da qual não foi possível despertar. Ver seu corpo inerte causou-me uma sensação indescritível. O corpo sem vida nos causa horror porque exprime a certeza da separação definitiva entre nós e a pessoa que conhecemos e amamos tanto. 

Meu pai não era um super herói ou um exemplo de ser humano do qual eu pudesse me ufanar nesse momento. Não... Meu pai era uma pessoa ordinária, como eu mesma sou. Como todos nós somos - cheios de defeitos e qualidades singulares impossíveis de serem encontradas em outro indivíduo. Meu pai era a pessoa mais alegre que conheci. Não me lembro nunca de tê-lo visto chorando ou com semblante entristecido por muito tempo. A seu modo, ele driblava o sofrimento e sempre demonstrava alegria em qualquer ocasião. Para mim, foi um pai cuidadoso em realizar as alegrias infantis: celebrava os aniversários com festa, natal e dia das crianças com presentes. Sempre que possível - quase sempre, na verdade - realizava todas as minhas vontades - que nunca foram poucas. Ele me fez uma criança muito feliz...

Seu gênio forte de leonino sempre se chocava com os nossos, mas nossas brigas nunca eram de causar mágoas eternas e insolúveis. Nos últimos tempos, nos tratávamos sempre cordialmente, com respeito amoroso recíproco. A última lembrança que le me deixou foi seu sorriso - ele gostava de rir e fazer rir. Assim, não me sinto no direito de ficar triste por mim - não por ele que agora goza do merecido repouso de uma alma cansada dos sofrimentos do corpo. Ele gostaria que eu prosseguisse minha jornada como ele: fazendo o que gosto, sorrindo e fazendo as pessoas sorrirem, cultivando amigos. 

Sempre que uma pessoa deixa esse mundo, deveríamos honrá-la pensando em sermos melhores. Foram essas as palavras que ouvi do meu companheiro nessa jornada. Palavras que transformarei, a cada dia, em realidade até meu último sopro de vida.

R.I.P Claudionor Santos de Oliveira (1948-2010)