quinta-feira, 1 de março de 2012

A nobreza de um ninguém - Albert Nobbs


A premiação do Oscar esse ano foi um fiasco. Ainda bem que eu me neguei a assistir para não morrer de ódio. Nos últimos anos, parece ter havido um surto de falta de criatividade. E há algo de podre num reino chamado Hollywood. Dos indicados a melhor filme, assisti 2: Meia-noite em Paris (belíssimo!) e A invenção de Hugo Cabret (chatíssimo). A 84ª festa do cinema nesse quesito foi nota zero por deixar de fora uma película digna do prêmio mais nobre do cinema mundial: Albert Nobbs

Pouquíssimo comentado pelos que se dizem "cinéfilos", o filme, baseado num conto naturalista do irlandês George Moore,  conta a história de Albert Nobbs, um perfeito serviçal de um hotel de luxo em Londres. Mr. Nobbs é admirado pelo seu empecável senso de detalhes, discrição e uma estranha sensibilidade para com as preferências dos hóspedes, a quem serve com maestria. Nobbs tem sonhos e trabalha duro para realizá-los. O drama de Albert é revelado logo no início e é ele quem dá a Glenn Close a merecidíssima indicação ao Oscar nesse ano. A atuação de Close é tão digna e tocante que  julgo vergonhosa sua derrota para a eterna Miranda (de O diabo veste Prada), Meryl Streep. Além do show de interpretação da atriz, no elenco estão alguns personagens queridos como o Sr. Wesley, de Harry Potter, o rei Henry VIII e a Catarina de Aragão da série Tudors e a Alice de Tim Burton.  Impossível entrar em detalhes sobre a trama - tão sensível, tão crítica e atual - sem revelar partes importantes da história. Portanto, farei apenas duas breves considerações; uma delas é que é muito interessante entender o filme pela perspectiva do Naturalismo literário. Nesse estilo de época, a realidade nua e crua é revelada em amplo espectro pela literatura: o ser humano é cruel, mesquinho e insensível. Todos são vulgares e no mundo não há lugar para pessoas virtuosas, nobres. É como se o papel de denúncia social coubesse aos poetas e escritores e não aos jornalistas ou os atuais "formadores de opinião" que se autointitulam blogueiros. Outro ponto - o mais interessante, presumo - é a particularidade do sobrenome do protagonista. Nobbs pode soar tanto como Nobre (Noble) - não aquele que possui títulos e riqueza, mas as melhores virtudes: honradez, gentileza, consideração, amabilidade... - como Ninguém (Nobody) - aquele cuja sociedade rejeita; um ente invisível, nulo. 


Ando muito chateada com essa coisa de premiações. O que é o reconhecimento da academia diante da nossa própria capacidade de julgar o que é bom para nós mesmos? Ficou muito evidente que o filme do menininho orfão (muito clichê!) foi incensado pela distinta direção de Scorsese (diretor que eu adoro, diga-se de passagem). Gostaria muito que o Woody Allen tivesse levado a estatueta! E sobre o vencedor, não há muito o que dizer - literalmente, por motivos óbvios! A nobreza, a gentileza, o amor não são valores que a academia deve reconhecer. É o que começo a perceber...

Às vezes me pergunto por que nos iludimos com essas coisas. A história de Nobbs mostra que do século XIX pra cá, o homem continua o mesmo: trapaceiro, sempre querendo tirar proveito dos demais, indigno de confiança ou crédito. Já perdi todo o meu com relação a essa mentira que se chama Oscar. Finalmente vi uma adaptação literária que faz juz à obra. E estou certa de que isso é a coisa mais rara que existe. Tão rara quanto a nobreza de caráter humano ultimamente...