segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Quem me ensinou a rezar?


Nas últimas semanas, eu tenho revivido minha vida... 10, 20, quase 30 anos atrás. A memória é mesmo uma coisa absolutamente fantástica. Como é possível apreender sensações, visões nítidas (às vezes nem tanto, apenas flashes) em forma de recordação? Um cheiro, uma carta, uma fotografia - trazem de volta o passado que quando é lembrança, está fora do tempo - se torna presente e projeta o futuro.

Eu me lembrei e tenho me lembrado de muitas coisas... Não riam de mim, mas lembrei de coisas que muita gente duvidaria. Da pessoa que eu fui há tanto tempo, das coisas que eu fiz e que me arrependo até hoje, das coisas que eu quero me perdoar e estou me perdoando...

Desde muito pequena, tinha fascinação pelas coisas espirituais - as coisas de Deus. Minha lembrança mais remota à esse respeito, me levam à imagem da minha bisa Ana. Ela rezava o terço feito de contas de sementes de Lágrima de Nossa Senhora. Ela balbuciava baixinho ajoelhada. Minha mãe era muito doente naquela época e quem cuidou muito de mim foi a minha tia-avó (Anita, em homenagem à mãe, minha bisavó Ana) e minha madrinha. Eu macaqueava, na santa ingenuidade dos meus 3 aninhos. Bisa, além de rezar sempre, duas vezes ao dia, gostava de ver o movimento da rua, os carros subindo a rua Santa Quitéria (no Bairro Padre Eustáquio) e eu ficava junto dela sempre. Mas não foi bisa que me ensinou a rezar - muito embora ela tenha me deixado (uma espécie de herança, pode-se dizer) seu terço de contas lágrima de Nossa Senhora para mim.

Tive a sorte de ter tido uma infância numa cidadezinha do interior. Rua plana, vizinhos todos amigos, criançada da mesma faixa etária... Há duas quadras da minha casa de paredes azul e rosa, ficava a igreja. Eu me levantava todos os domingos, me arrumava e ia à missa. Minha mãe tinha outra religião, que mais tarde acabei seguindo, mas eu era uma criança católica. Queria saber tudo da Bíblia, o que era Deus essa coisa de Adão e Eva e outras coisas que a gente aprende no catecismo. Eu tinha uns 6 anos. Lembro que minha mãe adoeceu e teve que vir se internar na capital... A vizinha, que era muito amiga da minha mãe e tinha filhos da nossa idade, era muito carinhosa e eu pedi a ela, por favor, para me ensinar a rezar o Pai Nosso e a Ave-Maria para minha mãe sarar. Eu aprendi muitas coisas assim. A maioria delas não aprendi com meus pais. Meus valores, inclusive, foram quase todos autoconstruídos. Filha única (não tenho irmãs, só irmãos - dois), eu fui e ainda sou muito solitária...

Rezar é muito bom. Não devia ser obrigação, mas antes de tudo um prazer. Não é uma coisa mecânica - tipo escovar os dentes, por exemplo. Devia ser uma necessidade... Quando como a gente tem fome e precisa comer. Rezar é alimento do espírito, da alma. E minha alma faminta me pede pra rezar - todas as noites, todos os dias...

Vou deixar pra vocês uma "reza" muito bonita que eu aprendi hoje:

"Amado Pai, quaisquer que sejam as condições que eu tenha que enfrentar, sei que elas representam o próximo degrau na minha evolução. Aceitarei de bom grado todos os testes, porque sei que dentro de mim estão a inteligência para compreender e o poder para superar". Paramahansa Yogananda


3 comentários:

Anônimo disse...

Rezer é alimentar a alma, é entrar em contato com o Divino, é reconhecer uma força que por trás da Vida, que tudo mantém.
A lembrança mais antiga que tenho é eu em um berço (!) brincando com um aviãozinho de plástico e minha mãe sando do quarto dizendo: "fica ai brincando com o aviãozinho".
Lembrar é viver, mas para o senso-comum é ficar levando o corpo para um lado e pro outro.
Já notei que as primeiras lembranças religiosas marcam muito, os pais deveriam refletir muito sobre isso. Eu por mais que tentei afastar da religião católica, ela é um marco na minha infância, e ainda tem muita força sobre mim.

Ana Matusita disse...

Que bom, Dri, ler esse seu texto. Me trouxe muitas lembranças, algumas delas com um terço de contas de lágrima de N.Sra, como da tua bisa...
Beijo

Mary Joe disse...

Adriana, me identifiquei muito com seu texto. Aliás, com o blog todo. Você é realmente muito talentosa.

Da mesma forma que vc, tinha muita curiosidade sobre a Bíblia, e gostava de sentir o clima da Igreja perto da minha casa. Estudei em colégio de freiras, então, algumas vezes por semana, tinhamos uma espécie de excursão até a Igreja.

Eu me sentava longe do bando, e ficava olhando a expressão serena de um Jesus que tinha lá, Sagrado Coração de Jesus, penso eu. E ele me ajudava muito. Era engraçado, lendo seu texto, fiquei pensando que eu rezava e nem sabia. Eu gostava de chegar lá e pedir conselhos. Sempre fui muito séria em relação as outras crianças, então, elas naõ entenderiam minhas dúvidas. E ele entendia.
Eu sentia a resposta em meu coração.

Hoje naõ sei dizer se sou católica. Acho que naõ. Mas ainda tenho essa empatia em relação a mãe Maria (nossa senhora), e sempre que as coisas ficam difíceis de entender (e de explicar) é a ela que busco ajuda, e pelo menos empatia.

Parabéns, seu blog é muito bom.
Beijo carinhoso
Mary