quarta-feira, 1 de julho de 2009

Quero ser Guru


Se não fossem os Beatles, o Ocidente não saberia o que esse termo originário da cultura indiana significa. Seu sentido, então, hoje está completamente banalizado: o guru da moda, o guru disso o guru daquilo... Etimologicamente, vem do sânscrito (considerada a mais antiga das línguas indo-européias) e é formada pelas sílabas gu - que significa sombra - e ru - que significa aquele que dissipa. Grosso modo, guru nada mais é que professor. O fato é que no Hinduísmo (agora tão caricaturizado pela maldita novela das oito), o guru é muito mais do que um simples instrutor. O guru é o único que pode salvar o discípulo da ignorância, conduzindo-o a liberdade - ou a Deus, em outros termos... Assim, o guru é "aquele que deve ser seguido". Portanto, sem discípulo, não existiria guru, não é? Pois é...

Há muito tempo tenho tido contato com gurus e me desapontado profundamente com eles. A crença de que um guru verdadeiro nos libertará do sofrimento é tão tentadora quanto morfina para o canceroso em fase terminal. A experiência tem me mostrado que as pessoas realmente não sabem o que de fato é um guru. E os gurus também não sabem qual é mesmo o seu papel no mundo. Ser um guru na Índia deve ser comum e natural - como ser padre no ocidente, talvez. Mas ser um guru de ocidentais significa viver num luxo absurdo e ser venerado, adorado como um ídolo pop - nenhuma diferença entre os fãs da Madonna e os seguidores ocidentais de guru. Nunca vi um favelado miserável seguir guru. Quem segue guru já foi para os Ashrams da Índia ou dos Estados Unidos pelo menos uma vez na vida. E que pobre ganhador de salário mínimo brasileiro pode pensar em realizar uma extravagância dessas? E quem em nosso país subdesenvolvido pode sustentar com dakshina a obra de um guru? - nenhuma diferença entre os ricaços que doam para instituições "espirituais" orientais e os pobres que dão o dízimo para as igrejas evangélicas.

Controvérsias à parte, acho que aprendi muito com todos os gurus que passaram pela minha vida. Aprendi que os ensinamentos de um guru (falso ou verdadeiro, realizado ou não, não importa) não difere muito uns dos outros em conteúdo - apenas na forma; que a equanimidade é o caminho da paz interior; que servir, ser doce, justo, honesto, bom, amoroso não são apenas deveres morais de todo ser humano, mas constituem sua verdadeira natureza; com forma, sem forma, com nome ou sem nome, existe "algo" que está além da compreensão comum - que guia nossas vidas, transformando-as, conduzindo-as, por mais que tentemos colocá-las segundo nossas próprias leis e, quando nomeado, é doce em qualquer idioma; que todos os templos, todas igrejas, todos os espaços que cultuem isso que prefiro não denominar é capaz de nos deixar mais fortes para enfrentar os obstáculos da vida e que devíamos sempre frequentar algum com o qual nos identificássemos.

Sobretudo, aprendi que esses seres "especiais" que obtêm da humanidade ordinária o título de mestre espiritual recebem tudo pelo qual todo ser humano - ignorante, culto, rico ou pobre - sempre desejou: atenção, cuidado, carinho, respeito e amor. Por isso, vou achar um caminho para me tornar guru. Mas pretendo ser um guru diferente. Não quero que me sigam. Não quero ser exemplo, não quero levar ninguém a lugar nenhum. Quero que cada um se ache, como eu quero me encontrar. Quero que todo mundo desperte a força que eu quero desperta em mim. Quero que cada um coloque à prova seus valores e supere as dificuldades como eu tento fazer todos os dias. Quero que todos encontrem a alegria de viver, mesmo que ela pareça não existir, porque eu sei que ela existe e que só é preciso encontrar. Não quero que ninguém me faça cerimônias devocionais. Quero ser grata pelo amor que sinto profundamente pelas pessoas e que o respeito que eu almejo brote dele, mutuamente. E sinceramente desejo, acima de tudo, que cada um seja o guru de si mesmo!

5 comentários:

Anônimo disse...

Engraçado que muitos "gurus" pregam que devemos ser o guru de si mesmo. Que paradoxo!
Enquanto existir dualidade dentro de nós haverá separação. Sempre digo, quando estamos abertos a aprender, aprendemos até mesmo com uma pedra! Deus nunca escondeu a sabedoria de ninguém. Tudo pode ser o Guru!

Nana Pertence disse...

Sejamos!

Capazes de a cada novo dia enxergar essa essência que é adormecida em nós!

Minha guru1

Te amo!

Nancy Passos disse...

Oi Adri !!

assim seja para todos nós.

Beijinhos,
Nancy

Fridu Nanthjan disse...

Aloha, Adri!

Tem uma frase do Nietzche que ficou impressa em minha mente adolescente, como ferro em brasa na pele, quando atrevidamente lia o seu Gaia Ciência, ei-la:

- Queres seguir-me?

- Sim, meu guru.

- Então segue fielmente a ti mesmo, e assim me seguirás muito sutilmente.

Mas idéias de pecado, culpa e redenção foram tão bem implantadas no Ocidente que o Guru tornou-se o Salvador. E quando o Salvador vai para o sacrifício promovido pelos que o perseguiam, nenhum dos que o seguiam, o segue. O Salvador está só. E o seguidor busca outro para seguir ou segue um fantasma que é apenas a projeção da condição de ovelha, de seguidor. Para salvar-se é preciso libertar-se da idéia do salvador. E isso é tornar-se responsável por si, cuidar-se, amar-se, para então poder estender-se naturalmente no outro.

No intento,

F.A.

Arly Cravo disse...

Como tudo que é importado para a sociedade de consumo, Gurú também virou kitch e clichê. perdeu a carga semântica original e virou status social. Terrível isso!
Adorei o post Dri.
Parabens!