quinta-feira, 9 de maio de 2013

Inquebrável


Não sei porque na natureza humana, o apego parece ser genético: um gene dominante que comanda aquilo que chamamos de eu a se apegar às coisas e às pessoas. Apego, assim como o medo, em si mesmo, tem um propósito na vida. Se não tivessemos apego à nossa mãe que nos deu a vida, que nos manteve vivos, cuidando-nos e alimentando-nos, como sobreviveríamos nesse mundo? Se não tivéssemos um apego à vida e a todas as coisas que nos mantém vivos - com saúde e em segurança - não estaríamos mais aqui para chegar a essa reflexão. 

Tenho um apego afetivo às minhas coisas. A algumas, mais do que outras. Tenho uma xícara que comprei num Natal para me autopresentear porque me apaixonei por ela à primeira vista. Nunca deixei ninguém a usasse ou lavasse. Sempre tive extremo cuidado em seu manuseio. Meu apego com minhas coisas é tão intenso que chego a imaginar que ninguém cuidará do que é meu melhor que eu. Então, embora a convenção social me silencie quando preciso compartilhar algo que é extremamente meu, sofro para manter o que me pertence. Mas como todas as coisas que existem, a xícara também tem vida útil. E ontem, num acidente doméstico, mesmo com todo meu zelo, meu querido utensílio foi trincado. Uma peça perfeita destruída. Embora ela ainda esteja funcional, minha amada xícara ficou mutilada, defeituosa, imperfeita. E meu coração deveria ter se partido junto; só que não. No exato momento em que o aborrecimento quis se apossar de mim, eu o expulsei. Pensei que tudo nesse mundo tem seu tempo; tudo se quebra, tudo se parte, tudo morre. 

Fiquei tentando decidir se deveria ou não jogá-la fora porque, afinal, não estava de todo estragada e eu poderia alimentar minha afeição por aquela peça de louça manufaturada que eu mesma transformei em um deus.  

Hoje tiraram de mim meus documentos, meu dinheiro, cartões e coisas de valor sentimental. Furtaram da minha bolsa meus pertences mais valiosos. Justamente aquelas coisas que mais tememos perder. E me pergunto... Por que tudo pode nos ser tirado sem que possamos fazer nada? Não adianta lutar contra o inevitável fim das coisas e parar de querer remediar o que não tem remédio. Perda e ganho são duas faces de uma mesma moeda.

Existe alguma coisa nesse mundo que seja imperdível? Imperecível? Inquebrável? Quando eu descobrir, saberei com certeza que nunca mais sofrerei outra vez enquanto eu viver.




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