quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Até meu último sopro de vida - Tchau, pai...

Morrer é inevitável. Certamente, em algum momento da vida nós já desejamos poder viver para sempre. Porém, há momentos em que a dor e a falta de compreensão sobre o porquê dessa existência é tão insuportável que a morte parece ser um prêmio merecido depois de tanta luta. Quando estou fazendo algo que me apaixona, não me lembro de pensar nisso: por que é que a gente existe se um dia não vamos mais existir? - nem nós nem aqueles a quem mais amamos. Por que não gostamos de falar ou sequer pensar na morte? A morte deveria ser pensada a cada dia... Não com tristeza, medo... Mas como uma forma de nos fazer entender que lutar tanto pela vida deve ter algum significado que precisamos descobrir.

Eu já tive tantos pesadelos horríveis com a morte do meu pai durante toda minha vida... Era um dos meus pânicos. Hoje vejo que todos aqueles pesadelos terríveis me prepararam para a realidade da qual não foi possível despertar. Ver seu corpo inerte causou-me uma sensação indescritível. O corpo sem vida nos causa horror porque exprime a certeza da separação definitiva entre nós e a pessoa que conhecemos e amamos tanto. 

Meu pai não era um super herói ou um exemplo de ser humano do qual eu pudesse me ufanar nesse momento. Não... Meu pai era uma pessoa ordinária, como eu mesma sou. Como todos nós somos - cheios de defeitos e qualidades singulares impossíveis de serem encontradas em outro indivíduo. Meu pai era a pessoa mais alegre que conheci. Não me lembro nunca de tê-lo visto chorando ou com semblante entristecido por muito tempo. A seu modo, ele driblava o sofrimento e sempre demonstrava alegria em qualquer ocasião. Para mim, foi um pai cuidadoso em realizar as alegrias infantis: celebrava os aniversários com festa, natal e dia das crianças com presentes. Sempre que possível - quase sempre, na verdade - realizava todas as minhas vontades - que nunca foram poucas. Ele me fez uma criança muito feliz...

Seu gênio forte de leonino sempre se chocava com os nossos, mas nossas brigas nunca eram de causar mágoas eternas e insolúveis. Nos últimos tempos, nos tratávamos sempre cordialmente, com respeito amoroso recíproco. A última lembrança que le me deixou foi seu sorriso - ele gostava de rir e fazer rir. Assim, não me sinto no direito de ficar triste por mim - não por ele que agora goza do merecido repouso de uma alma cansada dos sofrimentos do corpo. Ele gostaria que eu prosseguisse minha jornada como ele: fazendo o que gosto, sorrindo e fazendo as pessoas sorrirem, cultivando amigos. 

Sempre que uma pessoa deixa esse mundo, deveríamos honrá-la pensando em sermos melhores. Foram essas as palavras que ouvi do meu companheiro nessa jornada. Palavras que transformarei, a cada dia, em realidade até meu último sopro de vida.

R.I.P Claudionor Santos de Oliveira (1948-2010) 



7 comentários:

Mary disse...

Muito linda sua homenagem ao seu pai. Esse é um momento para reflexão e lembrar das coisas boas que ele fez.

Bjs

Luciana Betenson disse...

Adorei, querida. Chorei, não por tristeza, mas por emoção de ler palavras tão lindas em uma homenagem tão tocante e cheia de carinho como esta. Fique bem. Um beijo,

Anônimo disse...

Sei o q é perder um pai, porque já "perdi" o meu. Toda vez que sinto q melhorei um pouco mais, sei q de algum "lugar" ele fica feliz.
Meu pai amava aprender e estudar, assim faço eu hoje.
O seu pai "era" alegre e otimista; assim seja você também.
As pessoas só saem de nossa vida quando saem de nossos corações.

Dafne disse...

Ah amiga... ótima maneira de deixar registrado essa homenagem ao seu Pai.
Ele pode não ter sido o exemplo de homem perfeito, mas realmente isso existe? Acho que ninguém é de fato perfeito...

Espero que agora ele esteja bem, sem dores, sem doenças e em paz.
Beijos e qualquer coisa só me gritar!

Mary Joe disse...

Adriana, também ja´perdi meu pai, e entendi perfeitamente seus sentimentos. Achei linda sua homenagem. Que seu pai, onde estiver se orgulhe da filha que tem.
Beijokas
Mary Joe

"o poeta da verdade" disse...

Momento dificílimo, abençoada amiga que admiro tanto... Mas, sabemos que ele chega. Por vezes, inesperadamente, tragicamente. Por outras, presenciamos o ente querido fenecer dia após dia acamado, sem ter condições de reverter à situação. Por isso é importante viver intensamente ao lado dos nossos familiares dias de alegria! Independente das atitudes tempestivas e dissabores que nos proporcionam, através de atitudes impensadas e disputas particulares por direito de bens, porque o momento da morte é unicamente o “silêncio” e as lamurias e arrependimentos daqueles que ficam, condicionam o pesar, tanto no coração, como na mente, a vagarem o desequilíbrio por longo tempo...

Luzinha disse...

Primeira vez no seu blog, e li uma msg tão linda que me faz ter vontade de voltar sempre...me emocionei. Sou uma pessoa que não sei lidar com a morte. E acho que não estou preparada para perder meus pais...mais é a lei da vida.
Abraço.