sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Dia da (In)Consciência Negra


Honestamente, acho uma PALHAÇADA parar uma cidade - várias cidades - para celebrar a (in)diferença. Sim, porque ter consciência da negritude é desconsiderar a consciência de ser humano, em primeira instância. Já parou para pensar no absurdo que seria ter um dia da consciência branca? Me pergunto: consciência tem cor?

Por mais que as pessoas queiram fingir, a cor negra está social e historicamente associada ao mal, ao errado, ao perverso, ao ruim. Por que? É o que precisamos descobrir. Se pensássemos na cor preta* como ausência absoluta de cor, a ideia de defender um dia em prol da ausência absoluta das outras cores seria um processo absurdamente excludente e paradoxal ao propósito que a data veicula, concorda?

Negros são os propósitos de quem defende a supremacia de uma raça sobre a outra desconsiderando que, científica e biologicamente, a espécie prevalece - a espécie humana. Negra é a consciência das pessoas que ofendem, que maltratam sem motivo, que difamam, que invejam e tentam destruir a felicidade dos outros porque não quiseram (e não puderam) encontrar o caminho para a deles própria. Negras são as línguas ferinas que desferem palavras de rancor, como se gritassem: OLHE PARA MIM, VEJA COMO SOU INFELIZ (e consequentemente sem COR ALGUMA - NEGRO - SEM IDENTIDADE). Eu lamento muito mesmo essa falta de consciência... Profundamente!

Se eu tivesse a autoridade para definir como deveria ser celebrada essa necessidade de consciência - independentemente da cor - eu apoiaria o Dia da Consciência da Alteridade - o dia do respeito às diferenças individuais, do respeito pela condição social, econômica, física, emocional, psicológica e sexual das pessoas. Poderia ser qualquer dia o que deveria ser lembrado todos os dias. Eu apoiaria o dia 13 de maio - dia da abolição da escravatura no Brasil - para que pudéssemos refletir como as relações de escravidão e exploração do trabalho - a mais valia relativa e a absoluta que ainda prevalecem nessa nossa sociedade agonizantemente capitalista, entrando na era da global informação.

Eu desejo que todos que comemoraram essa data como um feriado possam ter descansado com suas famílias, visto um filme bonito, lido um livro interessante, que tenham conversado e sorrido com amigos queridos. Desejo que possam ter visto um mundo mais colorido, um mundo onde todas as cores têm seu valor, sua razão de existir e de enfeitar a vida.




*Preto: A cor preta ou negra é a mais escura do espectro de cores. É definida como "a ausência de luz", em cores-luz, ou como "a mistura de todas as cores", em cores-pigmento. É a cor que absorve todos os raios luminosos, não refletindo nenhum e por isso aparecendo como desprovida de clareza.

5 comentários:

Isaac Candido disse...

Passei o dia tentando entender o pq de tanta defesa à indiferença, institucionalizar o preconceito. Como bom brasileiro, obviamente eu não desprezo um feriado inútil, pra me tirar do cubículo do meu trabalho mas esse é simplesmente estúpido (e em todos os aspectos, porque na minha cidade não é feriado). Se eu fosse negro, eu iria me sentir ofendido, com certeza, de tentarem facilitar-me certas coisas, é o mesmo de chamar-me de incapaz. E se eu chamar um preto de inútil, eu vou preso. Irônico, no mínimo.

Anônimo disse...

Cada dia mais o país tenta separar os negros da sociedade, como se eles fossem uns deficientes.
Desde quando cor é raça?
Aposto que vai ter gente que vai achar um absurdo o que você escreveu. Ontem, vi na tv o pessoal da "consciência negra" falando que a sociedade tem uma dívida com eles. Triste.
Como diz a música "alma não tem cor". Gostei da música.

lpzinho disse...

Preciso confessar que gostaria de ter escrito este post amiga!
Muito bom.. correto, contundente.. não existe mto a acrescentar e enfim, concordo demais com as tuas letrinhas. Uma pena que as coisas ocorram desta forma por aqui.
Me fez lembrar de uma coisa.. Nos tempos em que se instalava a Nova República no Brasil, no final dos anos 80, parece que havia uma espécie de ORDEM surda e muda que fazia todo mundo pensar que, com o final do militarismo no poder, TUDO seria possível. Mtos de nossos eleitos se elegeram a custa de mentiras e promessas em nome do novo tempo chamado Democracia.
Eu sempre dizia... daqui a pouco, vc entra com seu carro na contra-mão de uma rua, mata alguém, atropela pedestre e nada te acontecerá pq ai aparecer um vereador e criará uma lei que permita que se ande na contra-mão... sabe isso? Pq é assim q tem sido. Inversão de valores, mandos e desmados, mto papo e pouca ação... e por ai vai o Brasil onde todos mandam, ninguém obedece.
E onde aocntecem estes casos 'inconscientemente'...
Beijo.. saudade e admiração sem fim!

lpzinho disse...

Obrigado sempre minha amiga querida!!! Bjinhos... te adoro e admiro demais!

Roberto Carlos Costa disse...

Você tem razão, Adriana. E essas suas palavras desenterram um tema que me instiga a curiosidade: o preconceito às avessas. Desde que tive acesso à discussões mais aprofundadas sobre a cultura negra no Brasil que penso nesse detalhe. O preconceito, pois, existe tanto no lado hegemônico como e até de forma mais latente no lado das minorias. E aqui refiro-me aos homossexuais, pobres, deficientes físicos, como também a mulher, o negro, o operário, o político, o ateu..., percebe? Penso que, na verdade, o preconceito está na condição de ser humano principalmente quando se vê em sociedade. Para ser mais claro, no caso, vejo muito preconceito de negros contra brancos e apesar de achar justo o grito de revolta e autoafirmação deles, em várias manifestações, já que de fato a história não nega o quanto foram desrespeitados por nossa sociedade e outras, entendo que suas manifestações tragam o bom cheiro e cor da comunhão, solidariedade e compreensão das incapacidades de todos nós humanos. Finalmente, vejo que as políticas públicas inerentes ao assunto devem apoiar-se e seguir definições de ordem mais sociologicamente técnicas e menos culturalmente ou meramente emotivas. Blog: http://tinyurl.com/robcarlos