sábado, 7 de abril de 2012

Feliz Desanivesário





A primeira vez que eu vi Alice no País da Maravilhas da Disney fiquei um tanto quanto decepcionada. Não sei explicar exatamente por qual motivo. Presumo que seja porque vi num momento errado da vida. Eu não entendi bem aquela overdose maravilhosa de cores e surrealismo. Tenho um pouco de reserva com unanimidade. O que dizem que é clássico nem sempre é sinônimo de excelência.

Aniversários são unanimidade. É considerado quase uma lei universal que seja celebrado, festejado, aclamado como evento especial na vida de todo ser humano. Mas por quê? Meu pai amava aniversários. Mesmo quando não tínhamos muito, meu pai fazia extrema questão de comemorar nossos aniversários com bolo, docinhos, salgadinhos e guaraná. Nunca se furtava a esse capricho. Ele gostava de festas... A primeira memória de aniversário que tenho foi quando tinha uns 4 anos. Ganhei uma boneca Susie do padrasto da minha mãe. A primeira festinha que me lembro com mais nitidez foi a de 5 anos. Morávamos no interior. Estavámos longe de todos os outros membros da família e mesmo assim, papai me comprou um bolo bem grande, encheu a mesa e convidou vizinhos para que eu cantasse parabéns e soprasse velinhas. Uma outra memória bastante curiosa é a do aniversário de 1 ano do meu irmão caçula. O tema foi o Sítio do Pica Pau Amarelo e veio a família toda em peso! A casa cheia, muitos vizinhos e amigos do meu pai estavam presentes. Havia muita comida, bebida e dança. Meu pai dançava muito, muito bem. E adorava me ensinar. Todos paravam tudo que estivessem fazendo para nos ver dançando gafieira, tango, todas as danças clássicas que papai conhecia e eu o acompanhava tão bem. Achavam lindo uma menininha de 7 anos dançando com o pai. Enquanto houve infância, papai nunca deixou de celebrar um aniversário meu sequer com festa. Nos meus quinze anos, tive o debut dos sonhos de toda menina, com toda pompa e circunstância... Tive meu dia de princesa...

Anos e anos tão longe agora da infância e sem meu pai, me questiono por que aniversários são tão importantes e celebrá-los tão imperativo quanto uma lei? Depois que fiquei adulta, aniversários viraram uma data social. Hoje em dia poucas pessoas ligam para cumprimentar, mas mandam e-mail, tweets, mensagens virtuais nas redes sociais para que a gente saiba que foi lembrado. Esse ano fiquei comovida com a infinidade de mensagens atenciosas e carinhosas que recebi e particularmente feliz por não estar sozinha nessa data, embora o "acaso" conspirasse para impedir que estivessem comigo na referida data. Comprei bolo, refrigerante e escolhi lugar. Chamei pessoas, como fazia meu pai. Mas ele, não sei por que, atraía sempre o público para seus eventos grandiosos. Acho que não tenho o mesmo talento dele. Todavia, não posso me queixar: tive a festa de aniversário mais singela e gostosa dos últimos anos. Como há muitos não fazia, soprei "velinhas" e os queridos que estavam comigo me cantaram parabéns pra você... 

Mais importante que aniversários - data que nos faz lembrar que estamos vivos quando a morte nos faz lembrar que devemos pensar no por que estamos vivos - são todos os outros 364 dias que o sucedem. Nos desaniversários não temos a obrigação de estarmos sorrindo e felizes porque é um dia "especial"; nos ocupamos em estarmos nervosos, ansiosos, estressados, criando e realizando desejos. Não é interessante pensar que nos desaniversários acontecem os aniversários de outras pessoas? Hoje é o meu desaniversário... É o seu também? Por que não comemorar?





3 comentários:

tamara disse...

Antes de mais nada tenho que dizer que há muito tempo não lia um post tão bem escrito, daqueles que não importa o número de linhas, quando chega ao final a gente pensa "já acabou?"
Sobre os aniversários, minha mãe também sempre fez questão de comemorar os nossos, depois de adultas nem que fosse só com bolo e sanduíche de patê. Esse ano pela primeira vez eu passei meu aniversário sozinha, mas é até meio injusto falar assim já que tive a companhia virtual de muitas pessoas queridas. E no final, no dia que é considerado só "nosso" é isso que vale, ser lembrada e de alguma forma estar cercada de pessoas queridas.
Embora não tenha tando contato assim, você é uma pessoa muito querida e eu te desejo o que há de melhor :)

Adri disse...

Oi, Tamara! Que comentário comovente... Sei como é chato parar para comentar mesmo quando lemos algo que achamos "foda". Leio muitos blogs diariamente, mas raramente comento.
Mesmo assim, às vezes tenho impressão de que nem sou lida... Mas comentários como o seu fazem acreditar que ainda vale a pena ter um blog nos moldes de web 1.0.
Muito obrigada!!!!

Anônimo disse...

Sozinhos ou acompanhados no nosso aniversário acredito que Deus está mais próximo do nosso lado. E a Alma "colada" no ego lembrando-nos da real (mesmo que inconsciente)razão de estar de volta a corpo.
O que me fez feliz foi estar do seu lado neste seu último aniversário. Uma pessoa doce e sensível.